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Foto do escritorInstituto Mpumalanga

A dança é um brinquedo


Maracatu Rural: uma das expressões brincantes da dança. (Foto: Celia Santos)

Maracatu Rural: uma das expressões brincantes da dança. (Foto: Celia Santos)


Para os Mestres da Cultura Popular a dança é um brinquedo. A expressão “brinquedo de gente grande” é um termo utilizado na região Nordeste do Brasil para se referir às diferentes manifestações dançantes como o Bumba meu Boi, o Cavalo Marinho e o Maracatu, por exemplo,  que são consideradas por esses Mestres como “meu brinquedo”, não como minha dança, meu grupo ou meu negócio.

Esta forma de se referir às danças populares, como um brinquedo deu origem à expressão “brincantes” (NÓBREGA, 2007), um termo difundido em diversas regiões do país e que vem sendo reconhecido como uma convenção entre pesquisadores, professores e praticantes dessa arte na contemporaneidade.

Nesse sentido consideramos que Dança Popular no singular, identifica uma forma particular de expressão e identidade cultural, e em sua pluralidade identifica diferentes formas de produção de conhecimentos artísticos- pedagógicos, por meio de seus modos de fazer em diferentes contextos.

Nas manifestações da Cultura Popular o brincante é uma espécie de menestrel. Brincante de ciranda e de coco, tocador de maracatu, animador de babau, tocador de ganzá, por exemplo, são cargos importantes nos brinquedos da região da Zona da Mata pernambucana e em diversos territórios de identidade cultural do Brasil. Nessas manifestações os saberes e fazeres são muitos. Puxar arco, botar figura, tocar no banco, bater pandeiro, rapar o bajo, balançar o mineiro, são algumas, dentre outras atividades,  que revelam práticas multirreferenciais dentro de um mesmo brinquedo.

Em resumo, é preciso viver essas práticas, sejam em seus terreiros   tradicionais ou em propostas mediadas em espaços institucionais de educação. Reconhecer e valorizar os Mestres da Cultura Popular e suas práticas dentro das escolas é uma estratégia pedagógica tão potente quanto proporcionar aos alunos uma experiência dentro dos terreiros e comunidades tradicionais, onde se apresentam essas manifestações como parte cotidiana de um modus de vida praticado por esses brincadores. Assistir ou participar das sambadas de Cavalo Marinho ou do Bumba-meu-boi de Pernambuco, ou visitar as Rodas de Capoeira, os Sambas Chulas, os Ternos de Reis e os Zambiapungas do Recôncavo Baiano, por exemplo, é uma forma de absorver toda a riqueza cultural preservada pelos mestres populares e uma possibilidade de compartilhar esses saberes com crianças e jovens na contemporaneidade.

Na prática dessas expressões culturais todos os envolvidos são considerados dançadores, cantadores, tocadores. Nesse contexto, a “Dança é Brinquedo! ”

Bonecos e Figuras Fantásticas da Cultura Popular –  Patrimônio Imaterial do Brasil.

No Brasil, especialmente entre as linguagens artísticas provenientes das manifestações populares, a cultura pode ser entendida como uma tradição em constante transformação, produzindo e resignificando dinâmicas entre o passado e o presente. Os bonecos e brinquedos artesanais presentes nas manifestações populares apresentam características singulares de formas de conhecimentos que dialogam, em diferentes contextos, entre a tradição e modernidade. Dentre as variadas formas de expressões, os bonecos constituem objetos difundidos principalmente por meio da sua reprodução técnica e de sua utilização em manifestações espetaculares presentes na dança e no teatro popular.


Pelo projeto Caravana das Artes, alunos aprendem sobre identidade e a importância da cultura regional na prática. (Foto: Fabio Ceratti)

Pelo projeto Caravana das Artes, alunos aprendem sobre identidade e a importância da cultura regional na prática. (Foto: Fabio Ceratti)


A Cultura Popular reconhecida como área de conhecimento e produção de saberes é um tema que as sociedades contemporâneas precisam vivenciar e aprender. Muitas das manifestações culturais brasileiras teem o reconhecimento da UNESCO –  Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura,  e do IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. São Patrimônios Culturais Imateriais do Brasil.

Nas escolas a divulgação e utilização dessa arte se apresentam como poderoso instrumento pedagógico, principalmente na Educação Infantil. Além de levar essa forma de manifestação popular à escola, há também o objetivo de traduzí-los em conhecimento.

O boneco, nesse contexto, é um aglutinador para se produzir e ensinar por meio de contações de histórias, composições musicais, interpretações de dramaturgias e produção literária. De certa maneira, o uso de bonecos de forma animada e dinâmica ajuda a cultura popular a existir e a permanecer no tempo. Por outro lado, transforma-se também em um objeto utilitário, como vetor pedagógico e didático, que procura instituir o conhecimento e a educação por meio das linguagens de Arte para além do entretenimento, recreação e distração.

As manifestações dançantes que utilizam bonecos, especialmente as denominadas de folguedos como o Bumba meu Boi e o Cavalo Marinho, contam com uma estrutura tradicional, apresentando personagens que se dividem em três classificações: as figuras fantásticas, as figuras humanas e as figuras animais.

As figuras fantásticas surgem de um imaginário local, apresentando figuras como o Babau, O Jaraguá, o Caboclo de Arubá, o Morto Carregando o Vivo, a Comadre Fulôsinha, revelando figuras que “não existem”. São invenções do imaginário mítico presentes nessas comunidades tradicionais. As figuras humanas são personagens como o Vaqueiro, o Capitão, o Mané Pequenino, o Pataqueiro, que revelam arquétipos de figuras humanas presentes nas comunidades e reinventadas pelo popular. As figuras animais se apresentam por meio da construção de bonecos que imitam Bois, Cavalos, Emas, Onças, Macacos, dentre outros.

Figuras humanas como o Mestre Ambrósio, o Mateus, o Bastião e a Catirina compõem as figuras fixas das manifestações presentes nos estados do Nordeste, bem como em outras regiões do Brasil. Cada região compõe suas histórias por meio do imaginário e cultura local, expressando identidades particulares em cada contexto, mas com as características coletivas e plurais que se aparentam entre as diferentes  manifestações.

É essa capacidade de tradução e reinvenção de tradições que garantem que seus “brincantes” apresentem uma grande troca de experiências, proporcionando o constante movimento de influências entre uma região e outra, e se afirmando entre diferentes Territórios de Identidades Culturais Brasileiros.

Na Caravana das Artes, projeto proposto pelo Instituto MPUMALANGA – SP, essa prática vem constituindo importante estratégia de inclusão, considerando-se os contextos culturais onde ocorrem essas manifestações populares. Os bonecos são construídos nas tendas de atendimento a crianças e adolescentes, bem como são desenvolvidos como conteúdo artístico-pedagógicos na Formação de professores. Nessa prática pedagógica, em cada local visitado é dada uma ênfase na valorização da cultura das populações tradicionais, especialmente os povos indígenas e povos ribeirinhos, comunidades remanescentes de povos quilombolas, comunidades caiçaras e populações rurais do semiárido brasileiro.


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O próprio professor Denny Neves entra em cena para apresentar o Maracatu com adereço construído a partir de recicláveis (Foto: Fabio Ceratti)


Nas ações da Caravana, para a construção desses objetos, geralmente são utilizados materiais descartados e reutilizáveis, juntamente com materiais artesanais presente em cada comunidade atendida. Esses bonecos funcionam ainda como estratégia de conexão entre diferentes linguagens artísticas, uma vez que por meio de sua potencialização como objeto pedagógico é possível desenvolver uma infinidade de histórias, músicas e danças.

A manipulação lúdica e dinâmica de bonecos e figuras fantásticas, coadunada com diferentes formas de produção de saberes e fazeres provenientes das manifestações tradicionais ajuda na compreensão de que, para os Mestres e Brincantes, a “Dança Popular Brasileira é Brinquedo de Gente Grande”!


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Professor de Danças da Cultura Indígena, Repertórios Populares e Afro-Brasileiros da Escola de Dança da UFBA – Universidade Federal da Bahia. Professor do Instituto MPUMALANGA – SP. Atua no Projeto Caravana das Artes com atendimento a crianças e jovens, bem como na formação de professores em diversos Estados Brasileiros.

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