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As Donas não deixam o samba morrer na Ilha do Massangano

O medo do samba morrer está entre os motivos para o resgate histórico de uma tradição em Petrolina, no interior de Pernambuco. Apesar de nunca ter se extinguido desde que os primeiros sambistas começaram a tocar na Ilha do Massangano, a possibilidade de essa cultura se perder inquietava Dona Raimunda Maria Solposto dos Santos, de 69 anos. Ela é uma das grandes incentivados dessa cultura e foi a responsável por iniciar o resgate histórico do Samba do Véio.

Ela gosta de valorizar a cultura local e contar uma infinidade de ‘causos’ dos tocadores e sambistas. Dona Josefa, do alto de seus 92 anos, era chamada por Raimunda de Velha Josefa. A idade limitou os movimentos, de modo que era preciso um par de muletas para se locomover. Exceto em noite de samba. “Eu dizia ‘você não é doente das pernas coisa nenhuma’”, imita Raimunda em meio a uma gargalhada, ao lembrar a amiga, que saltava das muletas para sambar.


Dona Raimunda levou o Samba do Véio para tocar fora da Ilha do Massangano e dedicou muito esforço para que a tradição não se perca. Ela garante: o samba nasceu na Ilha do Massangano. (Foto: Celia Santos)

Dona Raimunda levou o Samba do Véio para tocar fora da Ilha do Massangano e dedicou muito esforço para que a tradição não se perca. Ela garante: o samba nasceu na Ilha do Massangano. (Foto: Celia Santos)


Dona Raimunda também ajudou ao grupo com apresentações fora das redondezas do São Francisco e o Samba do Véio tocou muitas vezes no Recife e em outras cidades próximas à capital. “Tomou outra dimensão e ficou pouco para a Ilha, começamos a nos apresentar em outros lugares, mas não podíamos ir muito, porque as famílias precisam trabalhar na roça, para tirar o sustento”, conta.

ESPECIAL SAMBA DO VÉIO:

Em uma dessas viagens, Dona das Dores conheceu o mar. Ela, que tantas vezes se perdeu nas imaginações ao observar o São Francisco, entrou em estado de encantamento aos ver as águas salgadas do Recife. “A mulher ficou tão contente que pegou um potinho e guardou a água. Ficou com ela um tempo enorme”, relata Raimunda.

A fama do Samba do Véio chegou até um dos maiores nomes da cultura nordestina: Ariano Suassuna, dramaturgo, romancista, ensaísta e poeta. O mestre que tanto valorizou as raízes nordestinas não poderia deixar de colaborar com uma das grandes representações populares de sua região. Ele ajudou a viabilizar os CDs com as músicas do Samba do Véio. A segunda coletânea recebeu o nome de “Dona Amélia”, a mais velha representante dessa cultura, que doa a voz para tantas canções tradicionais registradas no disco.


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“Ela diz que está cansada e cega, mas quando o samba toca é que nem Dona Josefa”, afirma animada Raimunda dos Santos. Dona Amélia tem 79 anos e já não se arrisca nos agitos da dança, mas não deixa de participar ou tocando um dos instrumentos, ou simplesmente cantando as músicas, tão acostumadas ao seu timbre.

O Samba do Véio acumula histórias de brasileiros que transformam a música em diversão, mas também em educação. Os esforços para manter viva a tradição fizeram nascer o Samba do Véio Mirim, grupo só de crianças que desde pequenos convivem com a cultura na Ilha do Massangano e parece que já nasceram com alegria nos pés. A dança já virou oficina dentro da escola do vilarejo, onde os pequenos são muitos.

“O brasileiro diz que o samba nasceu no Rio de Janeiro, mas eu digo que nasceu na Ilha do Massangano”, encerra Dona Raimunda, sem pestanejar.


As crianças aprendem desde cedo a tradição dos velhos. São elas que devem continuar a ginga. (Foto: Celia Santos)

As crianças aprendem desde cedo a tradição dos velhos. São elas que devem continuar a ginga. (Foto: Celia Santos)


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