O Instituto Mpumalanga acompanha a Caravana das Artes com a metodologia que norteia o projeto. | Foto: Divulgação.
Ângelo Madureira sabe como poucos sobre educação por meio da arte, pois fora ele mesmo uma criança que cresceu com ela na família, no frenesi da cultura popular do Recife e em meio a pesquisas acadêmicas das manifestações artísticas de Pernambuco. Seu pai, André Madureira, foi fundador do Balé Popular do Recife junto com os quatro irmãos – Ana Tereza, Anselmo, Anthero e Antúlio, todos dançarinos – e hoje é patrimônio vivo do estado de Pernambuco. Não surpreende que o garoto que começou a dançar com a família aos 3 anos hoje cite o Caboclo de Lança como super-herói.
Bumba-meu-boi, caboclinhos, maracatu e pastoril compuseram a pesquisa que resultou na criação do Balé Popular do Recife pela família Madureira com apoio e incentivo de Ariano Suassuna, escritor e então secretário de cultura de Pernambuco. “Ele [Suassuna] convidou meus pais e tios para uma pesquisa de campo nas tradições e nas danças populares de Pernambuco. Foi aí que surgiu o Balé Popular do Recife. Nasci dentro desse projeto. Minha educação é muito rica com dança, música e teatro”, rememorou Ângelo. Hoje o Balé Popular de Recife completou sua quarta década.
Por falta de escolha ou por sorte, Ângelo Madureira seguiu a tradição da família. “Tive muita sorte de não ter opção, eu acho que foi sorte mesmo. Se forma um imaginário com as danças populares, que ajuda a saber mais sobre a cultura e a história do Brasil, afinal a dança envolve vários acontecimentos históricos: a capoeira tem relação com a cana de açúcar; o Boi-Bumbá com o gado. Eu devo tudo a dança”, observou bem-humorado.
Não à toa, ele é um defensor da arte na educação. “Cultura e educação andam juntas e ajudam na formação de um indivíduo. Saber sobre sua história e cultura é ter uma formação mais completa. O pensamento lógico é importante assim como a ciência, a matemática, mas também tem o imaginário, o lúdico e o criativo”, ponderou o dançarino.
Tradições nordestinas fazem parte do repertório do dançarino, que nasceu em uma família tradicional de artistas do Recife. | Foto: Jonia Guimarães/Divulgação
Sobretudo quando se fala em uma sociedade mais criativa, as artes devem ganhar espaço. Hoje empresas buscam pelo ‘ser criativo’, aquele que encontrará soluções para problemas contemporâneos, mas eles se tornam raros quando a nos limitamos a uma educação cartesiana. O desprestígio das artes nas escolas cria um paradoxo na sociedade atual.
“Às vezes olhamos para a arte com uma lógica museológica, como se fosse folclore e contemplada de longe, antiguidade. E na verdade, a arte faz parte da vida das pessoas. Quando uma criança entra em contato com isso, tem um estímulo criativo mais aflorado”, pontuou Ângelo Madureira, mais uma vez demonstrando gratidão pelo envolvimento artístico proporcionado pela família.
“O ser humano não quer apenas sobreviver, eles querem viver, viver uma vida boa, todos nós queremos, por isso precisamos de acesso à cultura. A arte, o esporte e a cultura são primordiais na vida de uma criança” defendeu.
Ângelo Madureira acompanha a Caravana das Artes em Recife, o projeto será desenvolvido no Parque do Caiara, zona oeste da capital, que o artista conhece tão bem e considera vibrante do ponto de vista cultural. “O Recife está totalmente envolvido com a cultura popular através das festividades, isso se vive muito forte, como no Carnaval e no São João, e os jovens e crianças se envolvem com isso”, finalizou orgulhoso.
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