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Foto do escritorInstituto Mpumalanga

Dia de Sertão traz à tona Luiz Gonzaga e visão versada da terra

Um dia de Sertão. Um “ser tão bonito”, com o perdão do trocadinho, o jogo de palavras traduz essa nova visão da caatinga do Nordeste. As equipes da Caravana das Artes e de documentaristas dos canais ESPN experimentaram um novo olhar para as terras tão caracterizadas pelas secas. Talvez, a nova visão tenha sido fruto do convívio com João DiCarvalho e Antônio, dupla de conterrâneos que nos acompanhou na jornada.

A van percorria a estrada de terra agitando os passageiros no sentido mais literal e dançante que se possa imaginar. Entre os trancos, remexia a imagem de um sertão verde, que não aludia às expectativas. João e Antônio explicaram que as fortes chuvas do início de ano deram cabo ao solo rachado. Então, Luiz Gonzaga cantou a paisagem.

“Mas o lindo prá mim é céu cinzento Com clarão entoando o seu refrão Prenúncio que vem trazendo alento Da chegada das chuvas no sertão Ver a terra rachada amolecendo A terra antes pobre enriquecendo O milho pro céu apontando O feijão pelo chão enramando” (Luiz Gonzaga, A Festa)

O versinho do Rei do Baião remoçava a memória. As notas surgindo de cada broto para sonorizar a experiência e entender mais sobre Gonzaga só de olhar para sua terra. João DiCarvalho compreende perfeitamente o que é caçar versos no Sertão, pois também é poeta-regional. O hífen se faz necessário porque poesia e geografia são complementares à arte de João.


João DiCarvalho é artista sertanejo. Ela canta, faz poesias, ensina e pinta. Sua fonte de inspiração também é a sua terra. (Foto: Celia Santos)

João DiCarvalho é artista sertanejo. Ela canta, faz poesias, ensina e pinta. Sua fonte de inspiração também é a sua terra. (Foto: Celia Santos)


“Sou geopoeta”, classifica, como bom adepto dos neologismos. Formado em geografia, João DiCarvalho jamais se desvencilhou de suas terras sertanejas, onde orgulhosamente nasceu, em Belém do São Francisco. Os conhecimentos acadêmicos, no entanto, só fazem sentido para ele quando versados, pois é artista esse João. Revela que as palavras o acossam com as melodias e a ele só resta cantar. Valoriza o cordel e guarda Luiz Gonzaga como mestre, a quem exerce devoção quase religiosa.

O caminho é cheio de encruzilhadas e não fosse o bom conhecimento de Antônio, certamente encontraríamos problemas.

Fazenda da Canoa

Os pensamentos já haviam se perdido pelos galhos retorcidos da caatinga quando chegamos ao nosso destino, que mais parecia desatino, tamanha surpresa com a recepção afável da professora Emília. O cheiro do almoço já evadia a cozinha da educadora, que não conseguia evitar o vai e vem de dentro do aposento. Da comida, não restou resquícios, que dirá palavras à altura.

Era a energia que faltava para começar o derradeiro objetivo da jornada: brincar. A Fazenda da Canoa é uma comunidade que abriga a Escola Municipal Padre Henrique Oligmüller, uma área de lazer, roça e criação de cabras. Meninos e meninas se mostravam habilidosos pelo campo de areia onde a bola rolava, saltava e provocava euforia. Mais adiante, a rede fora estendida para o vôlei, onde o reflexo era testado entre os amigos.


Esporte faz parte de comunidade sertaneja da Fazenda da Canoa e quebra esteriótipos frutos da seca. (Foto: Celia Santos)

Esporte faz parte de comunidade sertaneja da Fazenda da Canoa e quebra esteriótipos frutos da seca. (Foto: Celia Santos)


Nas conversas de beira da quadra, os jovens mostravam ansiedade para conhecer Fofão, a campeã olímpica de vôlei que será voluntária da Caravana do Esporte em Belém do São Francisco. Os mais novos se divertiam com uma infinidade de brinquedos tradicionais, todos construídos a partir de materiais reaproveitados.


O que poderia ser lixo, torna-se brinquedo na mão do pequeno sertanejo. (Foto: Celia Santos)

O que poderia ser lixo, torna-se brinquedo na mão do pequeno sertanejo. (Foto: Celia Santos)


“Se a lua nasce por detrás da verde mata Mais parece um sol de prata prateando a solidão E a gente pega na viola que ponteia E a canção é a Lua Cheia a nos nascer do coração” (Luiz Gonzaga, Luar do Sertão)

O Sol caiu exalto junto com os meninos que retornavam ofegantes e sorridentes e entrou em cena a Lua Cheia. Ela fazia parte do cenário da peça Cinco cabrinha e o Lobo Mau, interpretada pelos próprios professores da escola. Coube a Emília o papel de lobo. Embora bem interpretado, o Lobo Mau gerava certa simpatia, deixava transparecer a professora por trás das vestes. As gargalhadas foram de tirar o fôlego.


Professores dão exemplo de educação pela arte com teatro divertido, que abordou cultura regional. (Foto: Celia Santos)

Professores dão exemplo de educação pela arte com teatro divertido, que abordou cultura regional. (Foto: Celia Santos)


O dia se encerrou com música, entoada pelos professores da Caravana das Artes e acompanhada pelos animados moradores da Fazenda da Canoa.

Essa nova visão do Sertão, que começou na estrada, é assim tão bonita, que deixa as pupilas diretamente para a memória. Visão acompanhada de sentimento é eterna. Como é lindo esse Sertão.

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