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Foto do escritorInstituto Mpumalanga

O Samba do Véio, a tradição centenária que requebra senhoras

Os movimentos tinham tamanha intensidade que quadris e pernas pareciam ter autonomia sobre o restante do corpo. Mexiam sem obedecer à ordem anatômica alguma. Os pés descalços acompanhavam o fluxo desordenado dos corpos em dança e levantavam poeira do chão. O alvoroço em contato com a areia fazia subir uma nuvem igualmente dançante. Crianças giravam a distância e até o pequeno cachorro, um tanto quanto desorientado, entrava no ritmo frenético.

A roda é de samba, mas não um qualquer. O Samba do Véio tem características bastante particulares e uma história centenária, cujo principal enredo é a vida simples e aprazível dos moradores da Ilha do Massangano. É  nas ruas de terra do pequeno vilarejo que surge o movimento do samba. Nas casinhas de entradas convidativas, ele comparece e passa a fazer parte da vida daquela comunidade, bem como dos seus moradores.


Professora de dança do Instituto Mpumalanga, Rita Lagrota conheceu o samba nascido em Pernambuco. (Foto: Celia Santos)

Professora de dança do Instituto Mpumalanga, Rita Lagrota conheceu o samba nascido em Pernambuco. (Foto: Celia Santos)


Há mais de cem anos, um grupo de amigos da Ilha do Massangano, em Petrolina, oeste pernambucano, se reúne para tocar o samba. O encontro tomou tamanha proporção com o passar dos anos que hoje é considerado uma das ricas representações da cultura popular brasileira.

O nome Samba de Véio remete ao grupo de tocadores e dançarinos, os mais velhos da Ilha. Havia restrições para a participação de crianças na tradição, uma vez que a aguardente marcava presença e os encontros são noturnos. Hoje a dança é mais democrática e já se veem meninas mais novas entre as senhoras do samba.

As mulheres se enfeitam com saias rodadas e panos nas cabeças, ambos de estampa florida, que combina com as camisas dos homens. Uniformizados, eles começam o ritual de preparação para a música. Um banquinho de madeira com assento de couro de boi é o tamborete, instrumento fundamental àquela tradição. Galhos são posicionados em uma pequena depressão no solo e incendiados. O fogo indica que o batuque vai começar, pois é assim que os tocadores do Samba do Véio afinam o tamborete. Aquecido, o couro ganha nova sonoridade e ela já começa a contagiar o ambiente com as primeiras batidas. Além do banquinho onde não se senta, o cavaquinho, o pandeiro e o triângulo compõe a música.


Tamborete é afinado no fogo. Instrumento é fundamental na tradição da Ilha do Massangano. (Foto: Celia Santos)

Tamborete é afinado no fogo. Instrumento é fundamental na tradição da Ilha do Massangano. (Foto: Celia Santos)


O som começa na rua, mas não demora a tomar marcha. Os participantes vão levando a energia da música e da dança para as casas. Param diante de uma entrada e cantam a Cantiga dos Reis, um pedido para a folia entrar. Se o convite é aceito, os sambistas tocam dentro da casa para depois saírem às ruas em busca de um novo salão. E assim anoitece na Ilha do Massangano há mais de cem anos.


A umbigada é um dos movimentos característicos do Samba do Véio, que exige muito fôlego dos participantes. (Foto: Celia Santos)

A umbigada é um dos movimentos característicos do Samba do Véio, que exige muito fôlego dos participantes. (Foto: Celia Santos)


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