A Casa Brasileira abrirá, na próxima quarta-feira, 05 de junho, a exposição Um Certo Olhar, do artista visual Enio Squeff.
Composta por pinturas que trazem a visão do artista sobre questões sociais, culturais e históricas do povo brasileiro, a exposição ficará aberta à visitação gratuita até o dia 31 de agosto de 2019.
Enio Squeff é pintor, crítico musical, jornalista e escritor. Trabalhou nos principais jornais do país e conta que demorou a se dedicar à pintura por “ter medo de começar e não parar mais”.
Realizou exposições individuais em Cuba, Alemanha, Colômbia e Brasil. Ilustrador reconhecido dentro e fora do país, ilustrou mais de cem livros em quatro décadas. Entre esses trabalhos destacam-se os 700 desenhos feitos “alla prima” (executados diretamente nas páginas do livro) sobre os sonetos do poeta renascentista Petrarca, para a Ateliê Editorial.
Para esta exposição, na Casa Brasileira, com apoio do Instituto Candeias e da Multcar, Squeff traz obras feitas em diferentes anos e seu mais recente trabalho de 2019, a série Noturnos, onde explora cenas da noite paulistana, inspirado na poética de Chopin.
A pintura de Um Certo Olhar Texto de Enio Squeff
“As obras expostas nesta mostra, pela abrangência de sua temática, revelam o quanto me aprazem os motivos da nossa realidade e as instâncias que nelas me afetam. Na atual conjuntura, talvez o “homo politicus” que sou, me incitasse a partir para a denúncia que eu tentei deixar claro ao pintar “O Triunfo do Banqueiro”, na ironia de aludir ao teto de uma catedral, que celebrasse a coroação do personagem título, pelo demônio, e pela multidão que o adora; assim também na tela “Os Magistrados”. Não retratei os juízes que – não na sua totalidade, por favor – desfazem a boa imagem que nós, os cidadãos, deveríamos ter da Justiça no Brasil. Ou mesmo a “Manifestação” que dispensa explicações. No entanto, há a paisagem de uma de nossas maravilhosas chapadas com o insólito do encontro de um saci, de nosso folclore, com uma ninfa da mitologia helênica, “O Saci e a Ninfa” dois personagens que eu introduzi certamente para o livre jogo lúdico, de brincar. Meu inconsciente não permitiu que eu não os acrescentasse ao maravilhoso já inscrito na paisagem. E assim com tudo o mais, como a dupla de índios cantores “Cacique e Pajé”, que me brindaram com a sua música em pleno ateliê – uma das mais antigas telas desta mostra; ou o noturno que eu fiz, em Lisboa, com um auto-retrato, mas com o título inglês de um dos livros do mestre Fernando Pessoa: “Lisbon Revisited”; ou mesmo “Antônio Conselheiro” que aparece adornado por uma moldura dourada referência, essa, sim irônica, à jovem república brasileira que o que mais fez foi matar a nossa gente em Canudos. E que será a capa de uma nova edição de “Os Sertões” de Euclides da Cunha. Há os pequenos “Noturnos”. Eles me são caros pelo que me evocam, tanto de Chopin, meu muito amado compositor romântico polonês, quanto de minha vivência com a noite, referência ao notívago que sempre fui. Explico: minhas primeiras pinturas, por falta de tempo que eu roubava ao jornalismo, eu as fiz à noite, na Vila Madalena, onde ainda me encontro. E, por fim, há “São Jorge e o Dragão”. É o meu tributo ao que os cubanos chamam de “santeria popular”. Se há um saci, por que não um São Jorge, o santo guerreiro lutando contra os dragões do obscurantismo? Na tradição modernista ficou assente que a poética de um quadro valia por si. Como pintor do século XXI, devedor de uma tradição pictórica que nos chegou pelo expressionismo e o impressionismo, além de outros ismos que fazem a nossa realidade contemporânea, talvez as palavras fossem dispensáveis. Continuísmo, a buscar um elo perdido na tradição? É possível, só que sem qualquer tributo ao conservadorismo. De qualquer maneira, é à arte compósita de nossos tempos que cumpro a exigência de que também nos expliquemos.”
Sobre o artista Enio Squeff
Reconhecido por muitos de seus colegas artistas como “um pintor para pintores”, Enio Squeff já expôs no exterior (Alemanha, Colômbia, Portugal e Cuba) e se inspira na cidade de São Paulo e na Vila Madalena, onde mora e mantém seu ateliê para diversas obras.
Como muralista, pintou “De Paulo de Tarso a São Paulo”, uma obra de 118 metros quadrados, em homenagem aos 450 anos de São Paulo, no SESC, onde contou a história da formação da capital paulista sob a ótica da evolução da humanidade, passando pelo Egito antigo, à chegada dos jesuítas até a metrópole atual.
Também pintou um mural de 12 metros quadrados em homenagem a Dom Quixote, a propósito dos 400 anos da edição da obra de Cervantes, hoje na biblioteca da Universidade de São Paulo, USP Leste EACH, na capital paulista.
Combinando suas duas paixões, a escrita e a pintura, Enio Squeff ilustrou mais de cem livros em quatro décadas de produção, inclusive alguns de sua autoria. Merecem menção especial o livro “K”, de Bernardo Kucinski, que foi lançado na Europa, no Japão e em Israel, sempre com as suas ilustrações, e a obra do português Pedro Almeida Vieira, “Crime e Castigo no País dos Brandos Costumes”, lançada em 2012, no Brasil. Essas ilustrações receberam diversas críticas positivas dos países Ibéricos, onde o artista é bem conhecido. Em 2015, Enio Squeff fez 700 ilustrações alla prima, isto é, sobre a prova final de o “Cancioneiro”, de Petrarca, para a Ateliê Editorial.
É também autor de cinco livros: “Música, o Nacional e o Popular” (Editora Brasiliense); “Música da Revolução Francesa” (Editora LPM ), “Vila Madalena, crônicas histórica e sentimental” (Editora Boitempo); “Kislansky, o eterno e o moderno” (Editora San Floro) e “A Origem dos Nomes do Municípios Paulistas” (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo).
Em 2018, foi convidado para interagir artisticamente in loco no 5º Congresso Internacional de Ciências do Trabalho, Meio Ambiente, Direito e Saúde na Faculdade de Direito da USP, resultando na obra “Ordem e Progresso”, 176x270cm, retratando a violência urbana, despertando o interesse do artista neste tema, que desenvolveu, então, uma série de outras obras.
Exposição: Um Certo Olhar | Enio Squeff – 05/06/2019 a 31/08/2019 Realização: Instituto Mpumalanga Apoio: Instituto Candeias e Multcar
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