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Conectada com o nordeste, Clécia valoriza saber empírico de Sergipe


Clécia trouxe o Samba de Roda para Laranjeiras e se aproximou so Samba de Pareia e outras tantas culturas locais. (Foto: Celia Santos

Clécia trouxe o Samba de Roda para Laranjeiras e se aproximou so Samba de Pareia e outras tantas culturas locais. (Foto: Celia Santos


Pela segunda vez a cantora baiana Clécia Queiroz esteve em uma Caravana das Artes em Sergipe. Depois de vivenciar o projeto em Porto da Folha (2015), ela foi a artista convidada na etapa de Laranjeiras, realizada neste mês, e se sentiu ainda mais conectada com a cultura nordestina. Segundo ela, uma estudiosa do Samba do Recôncavo, as manifestações do Nordeste têm as mesmas raízes e uma ligação irrefutável com a afro-brasilidade.

Esse vínculo da cultura nordestina aproximou Clécia do povo sergipano. “São as mesmas pessoas e as condições são também muito parecidas. São pessoas que trabalham na lavoura, no marisco, na pesca, então são normalmente muito pobres e que não tiveram a oportunidade de trabalhar ou de estudar numa escola formal, mas são detentores de um conhecimento, um conhecimento que aprenderam com seus pais, com seus avós”, analisou a cantora.

Condições sócio geográficas similares e um vínculo fortalecido com a cultura regional quebram a divisão fronteiriça entre a Bahia de Clécia e o Sergipe de Maria, uma das marisqueiras da Mussuca, bairro quilombola de Laranjeiras. “A gente se sente muito orgulhosa, por essa força toda que a gente tem para lutar. Nossa família é guerreira de luta pela sobrevivência”, afirmou a mulher esguia, apesar da força diária.


Maria dos Santos acorda cedo para pescar os mariscos que sustentam a família. O preconceito com os moradores quilombolas dificulta emprego formal. (Foto: Celia Santos)

Maria dos Santos acorda cedo para pescar os mariscos que sustentam a família. O preconceito com os moradores quilombolas dificulta emprego formal. (Foto: Celia Santos)


A fonte de forças dessas mulheres também é a de Clécia, que encontra suas raízes e seu vigor na arte de cantar e dançar. O trajeto para o Manguezal, onde ocorre a pesca dos mariscos, é acompanhado por um cantarolar entrecortado de conversas cumplices e, no fim do dia, os mesmos pés calejados pelo percurso encontram leveza no samba.

“Isso é uma coisa impressionante. Como que se consegue, apesar das condições mais adversas de trabalho, transformar tudo isso em alegria, em festa, é impressionante. Isso é aqui do Nordeste, acontece no Recôncavo e é muito forte aqui em Laranjeiras”, observou Clécia, que acredita na influência afro. “Acho que tem a ver com o próprio ser africano, porque na África você faz absolutamente tudo cantando”, supôs, levando em considerações a forte presença da negra em virtude da escravidão nas plantações de cana e fumo características da região no período colonial.


Clécia traz o samba para contagiar com a arte na Caravana de Laranjeiras. (Foto: Celia Santos)

Clécia traz o samba para contagiar com a arte na Caravana de Laranjeiras. (Foto: Celia Santos)


A arte e a vida são indissociáveis para essas mulheres. “A gente no Ocidente é que separou tudo, mas não é parte de um contexto. A arte é parte da vida”, sentenciou a cantora. As manifestações artísticas são o que compõe nossas riquezas culturais, tão cheias de regionalismo no Brasil, mas com traços que as aproximam. É assim que Clécia vê a Bahia nas mulheres sergipanas e o contrário também é válido.

As manifestações culturais cumprem seu papel educacional, trazendo conhecimento empírico e virtudes. O saber está nas pessoas como nas páginas de um livro e é preciso estar atento para não pular nenhum parágrafo da história de quem aprendeu com a vida. “É uma tradição imensa, uma expertise que a gente no Brasil, os brasileiros precisam aprender com eles, que são grandes mestres, grandes conhecedores!”, reiterou Clécia.

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