– O Grêmio Estudantil é bom?, pergunta a repórter.
– Um pouquinho bom…, rebate Clifer Bonifácio, de 8 anos, sentado injuriado na extremidade direita do banquinho do castigo.
– O Grêmio é legal…mas na hora do castigo…, desabafa Samuel Alves Faria, enquanto faz um movimento repetitivo de negação com a cabeça.
– Minha prima falou que o Grêmio era chato, argumenta irrefutável Caio Felipe Soares de Oliveira.
Toda cutucada no Grêmio provocava uma respiração profunda em Maria Luiza, de 10 anos. Ela tomava o máximo de ar possível e preparava os lábios para uma resposta em defesa da instituição formada pelos próprios alunos.
– Não é o Grêmio que é chato, é só que ele está organizando – responde antes da próxima crítica. Maria vira-se para Samuel e com o dedo em riste completa – Eu dei duas chances para você parar!
O garoto dá de ombros. A gestão democrática das escolas públicas de Bauru não só permite a forte atuação de grêmios estudantis, como também de seus pequenos opositores. Não há nenhum tipo de constrangimento em ser contra a organização, principalmente para aqueles que perdem a ‘hora da diversão’ e assistem o movimentado intervalo do banquinho do castigo.
Jogo duro com Maria Luiza no Grêmio Estudantil.
As crianças do ensino público de Bauru aprendem a ter pensamento crítico com a atuação dos Grêmios Estudantis, pois vivenciam uma gestão democrática da escola quando se tornam responsáveis por identificar problemas e buscar soluções. O Recreio Ativo é uma importante vertente da iniciativa.
Com ele, o tempo de intervalo também se tornou tempo de aprendizado. As crianças devem pensar em brincadeiras e organizar as atividades. No momento em que cabe aos estudantes o papel de estruturar as ações para todos participarem, eles se colocam no lugar dos professores e coordenadores. Surge, portanto, o entendimento das dificuldades e das melhores estratégias para que a prática se realize com sucesso. Logo, a educação também ocupa o recreio.
“A questão da disciplina melhorou muito”, opina a coordenadora pedagógica Karina Soares Lelis. “O Grêmio auxilia na direção das atividades, então eles se colocam no lugar do professor”, emenda a vice-diretora da Escola Maria Chaparro Costa, Paula Michele.
As propostas para o intervalo já provocaram mudança profundas na rotina das crianças. Dentre as atividades, eles fazem circuito de aventura – o objetivo é pular corda, ziguezaguear os cones, cumprir polichinelos na cama elástica, entre outros desafios – têm música, telão com filmes e livros à disposição.
Movimento e atividades físicas propostas pelo grêmio no intervalo estão relacionados com queda da indisciplina.
“O Recreio ativo serve para não ficar essa bagunça. É para ajudar a escola a controlar a brincadeira”, justifica Maria Luiza. De mãos na cintura, ou cruzadas na altura do peito, a pequena desafia os opositores ao grêmio, vez ou outra bate os pezinhos como quem aguarda uma resposta.
Dona de si, ela já demostra na infância uma liderança que pode caracterizar seu futuro, mas antes que tropece na própria autoconfiança recebe orientações dos educadores para os inadvertidos autoritarismos. Na escola, a argumentação é fundamental e é na conversa que os professores apresentam justificativas e valores.
“No lugar de revidar, tem que conversar. Tem que haver o diálogo. Ele é a ferramenta principal para evitar brigas”, pontua Paula Michele. É por isso, que Maria Luiza pode bater o pé e gesticular bastante, mas são os bons argumentos que a colocam em uma posição de liderança.
Komentarze