top of page
Foto do escritorInstituto Mpumalanga

Na casa de Mestre Prudêncio educação vem da batida do congo

Os quatro tocadores de Congo do Morro Boa Vista, região serrana que corresponde à zona rural de Cariacica, no Espírito Santo – Walter Lima, Mestre Prudêncio e os irmãos Dinho e Nilceir Nascimento – são apenas uma parte do conjunto que forma a Cia Cumby, banda de Congo de Máscaras, tradição capixaba. Sem os instrumentos, são uma família, cuja base educacional esteve extremamente ligada à cultura local.

ENTENDA A HISTÓRIA DO CONGO:

Dinho, 37, e Nilceir, 34, tratam o pai muito respeito, escutam conselhos e histórias com tanta atenção, que mais parece devoção. O Mestre Prudêncio é orador e exemplo de vida. Sente-se completo, mesmo com pouquíssimos bens.


Mestre Prudêncio criou os filhos com os saberes do Congo e o próprio exemplo. (Foto: Rafa Yamamoto)

Mestre Prudêncio criou os filhos com os saberes do Congo e o próprio exemplo. (Foto: Rafa Yamamoto)


A família vive da terra. E vive com dificuldade nos últimos anos, em que as chuvas rarearam. “Já chegamos a tirar dois caminhões de produtos”, conta o mestre se referindo as plantações diversificadas, de café, banana, laranja e limão. O caminhão que outrora fazia o trajeto de descida do morro apinhado, hoje está emperrado e exposto aos estragos do tempo. “Ele nunca mais rodou”, completou em lamento.

A estratégia de sobrevivência hoje é comprar frutas e revende-las. Para isso, Dinho levanta todas as madrugadas às 2 horas da manhã. Eles também já tiveram um bar, mas o empreendimento foi de encontro aos ideais de Prudêncio, que ensinou os filhos a não consumir bebidas alcoólicas e fumar. Quando o consumo de drogas, um problema que assola a região, começou a se aproximar do bar, o chefe da família passou os cadeados para não mais abrir.


Seca enfrentada pelo moradores da tradicional região do congo exige busca por novas alternativas de sobrevivência. (Foto: Rafa Yamamoto)

Seca enfrentada pelo moradores da tradicional região do congo exige busca por novas alternativas de sobrevivência. (Foto: Rafa Yamamoto)


“Nosso tempo é esse, ocupado com o congo. Não tem espaço para malandragem. O tempo da gente é de escutar os mais velhos”, afirmou o Mestre. Todos os quatro filhos de Prudêncio mantêm ligação com a cultura e cresceram com os batuques. Além de tocadores, eles também produzem os instrumentos e cuidam do espaço da Cia Cumby. Os tradicionais tambores são confeccionados com couro de boi, doados pelos fazendeiros da região.

Os filhos de Prudêncio ajudam a manter a cultura tão importante para a história do Espírito Santo e em especial daquela zona rural. Hoje eles também ensinam os ritmos aos mais novos e às outras gerações da família, que já se multiplica com os netos do velho mestre. “O congo serviu de espelho, deu mais alegria, abriu muitas portas e ajudou a conhecer pessoas, até os famosos”, contou Dinho, fazendo referencia a cantora Margareth Menezes.

“Eu conheço muita gente bem de vida, com carro e tudo, que agradece o congo, porque ajudou a crescer”, acrescentou Prudêncio, mais acostumado ao lombo dos animais do que os veículos motorizados.

Quem também se engajou na luta pela cultura do Congo foi Walter Lima, embora não pertença à família, tem laços de amizade que o tornam um padrinho muito querido. Professor de educação física e apaixonado pelos ritmos africanos, Walter chegou ao Monte Boa Vista para dançar os batuques envolventes em 1997. Não mais abandonou a cultura.


Paisagem do alto inspira tradição da zona rural (Foto: Rafa Yamamoto)

Paisagem do alto inspira tradição da zona rural (Foto: Rafa Yamamoto)


“O congo é muito rico. As pessoas que aprendem a dançar, sabem qualquer outro ritmo. Às vezes vejo as pessoas em festa dançando congo com outros ritmos, e elas nem sabem que estão dançando congo e que isso vem do Espírito Santo”, exaltou o capixaba. Ele se preocupa com a tradição, pois vê problemas na valorização desta cultura local. “Uma vez eu fui a uma festa de aniversário da cidade e tocou de tudo – axé, funk, samba – só não teve o congo”, contou indignado.

A cultura, apesar da falta de valorização, permanece como fonte transformadora. “Toda comunidade tem uma história com a dança e a música. Faz parte da humanidade, ter uma identidade. Eu aprendi muito com meus pais e meus irmãos mais velhos. Não se pode perder isso. O congo garante nossa referencia cultural”, resumiu Dinho, que também desenvolveu variações do congo com um estilo mais pop para maior adesão juvenil.

5 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page